O conflito entre a Rússia e a Ucrânia também ameaça prejuízos para a economia de Santa Catarina.
Ambos os países fornecem importantes insumos: somente em 2021, as indústrias catarinenses compraram mais de US$ 220 milhões em insumos das duas nações.
Já a venda, apesar de menor, é significativa: está na casa dos US$ 107 milhões.
O cenário preocupa o setor empresarial catarinense.
Sanções contra a Rússia afetariam a exportação de carne brasileira e a importação de fertilizantes, aço e níquel vindos do Leste Europeu, por exemplo. Já a invasão na Ucrânia ampliaria a insegurança – e por consequência o preço – para a compra de PVC. O país que já fez parte da extinta União Soviética teve uma verdadeira arrancada na venda deste produto no último ano.
A tensão entre os países do Leste Europeu começou no fim de janeiro, quando o presidente russo, Vladimir Putin, encaminhou tropas militares para a fronteira, reacendendo o conflito de 2014.
O reconhecimento de repúblicas separatistas na Ucrânia e a resistência do líder russo em permitir a aproximação do país vizinho com blocos econômicos estão no centro da hostilidade.
Curiosamente, um dos impactos econômicos iniciais do conflito foi positivo.
Entre terça (22) e quarta-feira (23), o Brasil teve mais capital externo entrando, pois em meio ao embate o Brasil se mostrou mais seguro para receber investimentos internacionais. O Ibovespa subiu 1,04% e o dólar caiu para R$ 5,05 nesta terça (23) – a menor cotação desde o início de julho.
“Num recorte momentâneo identificamos impactos positivos. Com a Rússia nessa posição, se busca outras fontes para importar insumos. Daí surge a possibilidade dessa demanda ser atendida pelos fornecedores brasileiros”, explica Maria Teresa Bustamante, presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc (Federação das Indústrias de SC).
Apesar da avaliação pontual ser positiva, a longo prazo a situação não é boa. Santa Catarina compra muito da Ucrânia e exporta pouco – o chamado valor de balança comercial negativa.
A relação intensificou ainda mais durante o ano de 2021: enquanto as indústrias catarinenses compraram US$ 4,8 milhões em produtos ucranianos, no ano seguinte a soma passou para aproximadamente US$ 27 milhões, segundo dados da Fiesc.
O motivo do valor crescer mais de cinco vezes é justamente a compra de PVC, detalha Bustamante. Quase metade do valor gasto em produtos ucranianos (cerca de US$ 13 milhões) foi para adquirir polímeros de cloreto de vinilo, nome químico do produto. Antes de 2021, o valor aplicado por Santa Catarina para a compra do produto na Ucrânia era inexpressivo.
O produto é utilizado nas indústrias de transformação para a fabricação de tubos, janelas, recobrimento de cabos, entre outros materiais. O interesse crescente pela venda da Ucrânia ocorre por conta do preço competitivo, qualidade do insumo e diversificação de fornecedores, explica Bustamante.
“O conflito pode aumentar o preço. [Isso porque] cresce o custeio na logística, no valor do seguro e amplia as dificuldades para o acesso aos portos de embarque, por exemplo. São riscos que devemos estar de olho. O alto risco e a insegurança também refletem no custo do frete marítimo”, cita a presidente.
Qual seria o impacto de possíveis sanções para SC?
Com o objetivo de conter Vladimir Putin, países como Alemanha, Estados Unidos e a própria União Europeia estão anunciando sanções (restrições e punições econômicas) contra a Rússia. No Brasil não há indícios de que medidas semelhantes serão adotadas. O presidente Jair Bolsonaro (PL) classificou como “positivo” o encontro que teve com o líder russo na última semana.
Para Santa Catarina, a Rússia representa um importantíssimo mercado para as exportações de proteína animal, especialmente a carne de porco, detalha o economista e professor da Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina), Baltazar Salgueirinho.
O Estado mais compra do que vende: foram US$ 101,16 milhões exportados e US$ 194,3 milhões importados, apenas em 2021. “Hoje o comércio com a Rússia é deficitário para o nosso Estado, que exporta principalmente motores elétricos, carnes de aves e máquinas para trabalhar madeira e importa adubos, fertilizantes, alumínio, aço e borracha”, detalha o professor.
Ainda segundo o professor, o maior risco é o aumento dos preços de combustíveis fósseis. Isso afetaria diretamente o bolso do consumidor porque elevaria a taxa de inflação e reduziria o poder de compra. “Num primeiro momento, não acredito em um impacto significativo para as exportações de Santa Catarina, mas é claro que esta análise depende da evolução da tensão e do conflito na Ucrânia”, detalha.
Sobre o cenário do ponto de vista econômico, a presidente presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc avalia que “é preocupante porque a Rússia é um mercado importante. Em qualquer circunstância os conflitos militares não são recomendados para relações econômicas”, ressalta Bustamante. “Aumentam os custos e os riscos. Estamos acompanhando com cautela: são situações que podem ser resolver ou ter uma greve decretada no espaço de uma noite”.
Fonte: ND+