A Polícia Civil deflagrou na manhã
desta terça-feira (15) uma nova operação contra um grupo que se estabeleceu no
Paraguai há alguns anos para enviar semanalmente meia tonelada de maconha para
o Rio Grande do Sul. Desta vez, o objetivo foi atacar a liderança de três
facções do Estado que compravam a droga.
Cerca de 60 agentes cumprem nove
mandados de busca e 21 de prisão preventiva em três cidades da Região
Metropolitana e em presídios do Estado. Um veículo blindado e um helicóptero
são usados na ação.
Três ordens judiciais são cumpridas
em penitenciárias federais. Entre os alvos está Juraci Oliveira da Silveira, o
Jura, condenado a 74 anos de prisão, suspeito de comandar o tráfico no Campo da
Tuca, na zona leste da Capital, e envolvido na morte do então vice-presidente
do Conselho Regional de Medicina (Cremers), Marco Antônio Becker, em 2008.
Outro alvo é um traficante que tinha
casa com piscina e alçapão secreto para fuga no bairro Cascata, também na Zona
Leste, além de ter construído um albergue para integrantes da organização
criminosa.
Até as 6h50min, a polícia havia
cumprido 14 dos 21 mandados de prisão.
A chamada “Operação CabeçaS” é continuidade de outra, deflagrada em julho de
2021. As duas coordenadas pelo titular da 3ª Delegacia do Departamento de
Investigações do Narcotráfico (Denarc), delegado Alencar Carraro.
A investigação teve início em 2019,
após a apreensão de 250 quilos de maconha na Região Metropolitana. Um inquérito
foi instaurado e teve como resultado inicial uma ação realizada no ano passado.
Na ocasião, foram presas seis pessoas
e também foram usados um helicóptero e um veículo blindado para garantir a
segurança dos agentes. A droga apreendida tinha o logotipo “Da lata” e a
inscrição “Top RN253”, referente a uma linha de ônibus que atende à região do
bairro Cascata.
O local é reduto do suspeito de
plantar a maconha no Paraguai, considerado um dos fornecedores dos líderes de
três facções. Ele não havia sido localizado na operação da época, mas foi
detido em janeiro deste ano em Santa Catarina.
Ao longo da investigação, a polícia descobriu também os receptadores da maconha
na Região Metropolitana e, por meio de um artifício jurídico adotado na
Lava-Jato, a chamada Teoria do Domínio do Fato, conseguiu enquadrar vários
líderes de três facções em apenas um inquérito. Por isso, os agentes cumprem
nesta terça-feira as ordens judicias em Porto Alegre, principalmente na Zona
Leste, mas também em Alvorada e em Cachoeirinha.
Todos os investigados são considerados
do primeiro escalão dos grupos criminosos, inclusive, alguns são apontados como
os principais líderes das organizações. Dos 21 suspeitos investigados, 13 atuam
nas ruas e oito estão no sistema prisional. Destes, cinco estão no Presídio
Central e na Penitenciária Modulada de Charqueadas.
Outros três, considerados de maior
periculosidade, estão em presídios federais fora do Rio Grande do Sul. Carraro
não divulgou nomes, mas GZH apurou as identificações.
Além de Jura, que atualmente está em
presídio na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, há outro suspeito na
mesma casa prisional e é apontado por ser líder do tráfico na Restinga, na zona
sul da Capital. O nome dele é Luis Fernando Oliveira Jardim, conhecido como
Rato.
Outro suspeito de comandar a compra
de maconha plantada por grupo gaúcho no Paraguai é Leonardo Ramos de Souza,
conhecido como Peixe. Atualmente em presídio federal em Porto Velho, Rondônia,
ele foi alvo de operação policial em 2017 no bairro Glória. Na época, a polícia
descobriu que ele tinha uma casa com piscina e quiosque, que chamava a atenção
em meio a residências simples no Morro da Embratel. O local tinha até um
alçapão para fuga, e Peixe foi investigado ainda por construir um albergue na
mesma região para integrantes da facção.
Outro suspeito que teve mandado de
prisão cumprido nesta terça-feira, mas neste caso no Presídio Central, é
apontado por comandar o tráfico no condomínio Princesa Isabel, no bairro
Santana, também em Porto Alegre.
GZH está tentando contato com os
advogados dos três detentos investigados como suspeitos de liderar facções e de
comprar maconha para ser distribuída na Região Metropolitana.
Desde o início da investigação, em
2019, e sem contar com a ação desta terça-feira, o Denarc contabiliza 440
quilos de drogas apreendidos e 11 prisões de suspeitos de envolvimento neste
esquema de plantio de maconha no Paraguai e distribuição na Região
Metropolitana.